ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL NA ADOLESCÊNCIA
Como dissemos em anterior artigo, o aumento do número de adolescentes com excesso ponderal no nosso país é uma tendência perturbadora que justifica a atenção especial por parte dos pais, escolas, autarquias e profissionais de saúde pública.
A adolescência é um dos períodos mais críticos no desenvolvimento humano. O crescimento relativamente uniforme da infância dá então lugar a um outro bastante mais rápido. Esta fase da vida é considerada especialmente vulnerável em termos nutricionais, devido a uma maior carência geral e necessidades especiais de nutrientes, provocadas pela maior velocidade de crescimento e pelas alterações do estilo de vida e dos hábitos alimentares que nela ocorrem. A obesidade na adolescência é, de facto, um problema grave, mais característico do modelo de cultura ocidental.
Embora as consequências de um excesso de peso a longo prazo sejam preocupantes, nos jovens os efeitos mais graves são, sobretudo, os que se manifestam a curto prazo, numa fase em que a imagem do corpo é fulcral. Acresce que nos rapazes, ao contrário do que se passa com os homens adultos, que engordam na cintura, o excesso de gordura acumula-se na mesma zona das raparigas, o que altera o aspecto masculino tipo, modificação que se pode acentuar com um crescimento moderado dos seios.
Estas mudanças fisionómicas são especialmente favorecidas pelos vícios de uma sociedade desenvolvida, onde predomina o sedentarismo e a comida hipercalórica, com a agravante de esta ser estudada pelas empresas de alimentação precisamente para ir ao encontro do gosto dos jovens e lhes despertar um maior apetite, promovendo assim um maior consumo. É mole, come-se rapidamente, tem uma apresentação atractiva, um sabor doce ou salgado agradável ao paladar, com uma publicidade estudada cientificamente para ficar registada no seu sistema nervoso central.
Os padrões de alimentação dos adolescentes são frequentemente caóticos: tendem a omitir um número crescente de refeições em casa; estabelecem diferentes associações com alimentos saudáveis e alimentos de baixo valor nutritivo, dando preferência aos últimos; e o recurso a “fast-food”, em substituição de refeições normais ou lanches, torna-se prática regular. Ora, apesar de alguma variedade desta alimentação oferecer uma selecção de produtos saudáveis, na generalidade dos casos mais de 50% das suas calorias são provenientes de gordura.
Em termos práticos, uma alimentação saudável na adolescência deverá ter como objectivos: possibilitar o desenvolvimento máximo consentido pelas características genéticas – cerebral, ósseo, estatural; aumentar a capacidade de resposta imune para reduzir a susceptibilidade a doenças infecciosas e outras; impedir o aparecimento de doenças metabólicas degenerativas; beneficiar a competência mental, favorecer a atenção e, deste modo, contribuir para melhores aptidões escolares.
Então, o que poderão fazer os pais para contrariar esta preocupante tendência?
É fundamental convencer os filhos a fazerem seis ou sete refeições diárias, evitando que fiquem mais de três horas sem comer (poderão começar por colocar nas suas mochilas um iogurte e algumas bolachas simples para uma refeição intercalar); insistir para que tomem um pequeno-almoço completo, com leite e pão ou cereais simples; habituá-los a comerem sopa ao almoço e jantar e a preferirem alimentos cozidos, grelhados ou estufados em gordura vegetal, em vez dos fritos e assados. Na selecção dos menus e na prática das refeições, é importante persuadi-los a preferirem ementas à base de carne de peru, frango, galinha e coelho, em detrimento de carne de vaca, pato ou porco, a não comerem a pele e a gordura visível da carne e do peixe, a escolherem o azeite como gordura de eleição, a optarem, quando for o caso, pelos conservados em azeite ou em água, a reduzirem o consumo de alimentos ricos em sal ou açúcar, assim como o de bebidas gaseificadas e refrigerantes.
É aconselhável que os filhos não tomem sistematicamente o almoço fora de casa, mas, se tal prática não for possível, que prefiram comer nas cantinas das escolas (pressionando os conselhos directivos a torná-las espaços agradáveis de convívio, a servirem refeições nutricionalmente equilibradas e variadas e a eliminarem as máquinas de venda e todos produtos hipercalóricos dos bares); no caso de terem excesso de peso, é conveniente não os deixar andar com muito dinheiro, de modo a reduzir-lhes as possibilidades de tentação por outros alimentos aliciantes, de que não necessitam e que só lhes farão mal.
Em casa, é recomendável dar preferência a alimentos de origem vegetal, fazer igualmente refeições equilibradas e variadas, com sopa, carne, peixe, ovos, farináceos, vegetais e fruta, e ensinar os filhos a tomar uma ou duas refeições a meio da tarde, de modo a prevenir as compulsões entre o lanche e o jantar, e a beberem 1,5 l de água diariamente.
Por último, é primordial estimulá-los a praticar actividade física, na escola, nos ginásios ou em clubes desportivos, fazê-los andar a pé e organizar caminhadas com os amigos. E se os pais os acompanharem tanto melhor! O seu papel é decisivo em todo o processo. Trata-se de defender a saúde dos seus filhos.
Paula Beirão Valente
(Nutricionista)