...com alma, com gentes, com sabores, com sensações, com saudades...

segunda-feira, outubro 30, 2006

ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL NA ADOLESCÊNCIA

Como dissemos em anterior artigo, o aumento do número de adolescentes com excesso ponderal no nosso país é uma tendência perturbadora que justifica a atenção especial por parte dos pais, escolas, autarquias e profissionais de saúde pública.
A adolescência é um dos períodos mais críticos no desenvolvimento humano. O crescimento relativamente uniforme da infância dá então lugar a um outro bastante mais rápido. Esta fase da vida é considerada especialmente vulnerável em termos nutricionais, devido a uma maior carência geral e necessidades especiais de nutrientes, provocadas pela maior velocidade de crescimento e pelas alterações do estilo de vida e dos hábitos alimentares que nela ocorrem. A obesidade na adolescência é, de facto, um problema grave, mais característico do modelo de cultura ocidental.
Embora as consequências de um excesso de peso a longo prazo sejam preocupantes, nos jovens os efeitos mais graves são, sobretudo, os que se manifestam a curto prazo, numa fase em que a imagem do corpo é fulcral. Acresce que nos rapazes, ao contrário do que se passa com os homens adultos, que engordam na cintura, o excesso de gordura acumula-se na mesma zona das raparigas, o que altera o aspecto masculino tipo, modificação que se pode acentuar com um crescimento moderado dos seios.
Estas mudanças fisionómicas são especialmente favorecidas pelos vícios de uma sociedade desenvolvida, onde predomina o sedentarismo e a comida hipercalórica, com a agravante de esta ser estudada pelas empresas de alimentação precisamente para ir ao encontro do gosto dos jovens e lhes despertar um maior apetite, promovendo assim um maior consumo. É mole, come-se rapidamente, tem uma apresentação atractiva, um sabor doce ou salgado agradável ao paladar, com uma publicidade estudada cientificamente para ficar registada no seu sistema nervoso central.
Os padrões de alimentação dos adolescentes são frequentemente caóticos: tendem a omitir um número crescente de refeições em casa; estabelecem diferentes associações com alimentos saudáveis e alimentos de baixo valor nutritivo, dando preferência aos últimos; e o recurso a “fast-food”, em substituição de refeições normais ou lanches, torna-se prática regular. Ora, apesar de alguma variedade desta alimentação oferecer uma selecção de produtos saudáveis, na generalidade dos casos mais de 50% das suas calorias são provenientes de gordura.
Em termos práticos, uma alimentação saudável na adolescência deverá ter como objectivos: possibilitar o desenvolvimento máximo consentido pelas características genéticas – cerebral, ósseo, estatural; aumentar a capacidade de resposta imune para reduzir a susceptibilidade a doenças infecciosas e outras; impedir o aparecimento de doenças metabólicas degenerativas; beneficiar a competência mental, favorecer a atenção e, deste modo, contribuir para melhores aptidões escolares.
Então, o que poderão fazer os pais para contrariar esta preocupante tendência?
É fundamental convencer os filhos a fazerem seis ou sete refeições diárias, evitando que fiquem mais de três horas sem comer (poderão começar por colocar nas suas mochilas um iogurte e algumas bolachas simples para uma refeição intercalar); insistir para que tomem um pequeno-almoço completo, com leite e pão ou cereais simples; habituá-los a comerem sopa ao almoço e jantar e a preferirem alimentos cozidos, grelhados ou estufados em gordura vegetal, em vez dos fritos e assados. Na selecção dos menus e na prática das refeições, é importante persuadi-los a preferirem ementas à base de carne de peru, frango, galinha e coelho, em detrimento de carne de vaca, pato ou porco, a não comerem a pele e a gordura visível da carne e do peixe, a escolherem o azeite como gordura de eleição, a optarem, quando for o caso, pelos conservados em azeite ou em água, a reduzirem o consumo de alimentos ricos em sal ou açúcar, assim como o de bebidas gaseificadas e refrigerantes.
É aconselhável que os filhos não tomem sistematicamente o almoço fora de casa, mas, se tal prática não for possível, que prefiram comer nas cantinas das escolas (pressionando os conselhos directivos a torná-las espaços agradáveis de convívio, a servirem refeições nutricionalmente equilibradas e variadas e a eliminarem as máquinas de venda e todos produtos hipercalóricos dos bares); no caso de terem excesso de peso, é conveniente não os deixar andar com muito dinheiro, de modo a reduzir-lhes as possibilidades de tentação por outros alimentos aliciantes, de que não necessitam e que só lhes farão mal.
Em casa, é recomendável dar preferência a alimentos de origem vegetal, fazer igualmente refeições equilibradas e variadas, com sopa, carne, peixe, ovos, farináceos, vegetais e fruta, e ensinar os filhos a tomar uma ou duas refeições a meio da tarde, de modo a prevenir as compulsões entre o lanche e o jantar, e a beberem 1,5 l de água diariamente.
Por último, é primordial estimulá-los a praticar actividade física, na escola, nos ginásios ou em clubes desportivos, fazê-los andar a pé e organizar caminhadas com os amigos. E se os pais os acompanharem tanto melhor! O seu papel é decisivo em todo o processo. Trata-se de defender a saúde dos seus filhos.

Paula Beirão Valente
(Nutricionista)

terça-feira, outubro 24, 2006

Há homens assim…

Foi na última quarta-feira. Perto da meia-noite a casa do Augusto Morais estava em chamas. Acudiram os vizinhos como soe fazer-se nas aldeias da Beira. A ansiedade crescia ao ritmo das chamas e do fumo e os donos não davam sinais de vida.

Lá fora, na rua, a Miuzela do Côa reunia-se com gente ansiosa e impotente, chamando pelo Augusto e pela Beatriz. O silêncio devolvia-lhes a aflição e aumentava o medo.

Manuel Jerónimo Prata e José António Prata, dois irmãos, arrombaram portas e foram salvar as vidas que julgavam em perigo. Não os demoveu o fumo nem o fogo, não pensaram na vida que arriscaram e nos perigos que os esperavam. A solidariedade é alheia a cálculos e tibiezas.

Na busca dos conterrâneos em perigo apenas os moveu o desejo de resgatá-los, a ânsia de salvar vidas em perigo. O Augusto e a Beatriz ainda não tinham chegado. Na casa vazia de gente os irmãos Prata procuravam libertar vítimas quando a explosão de uma botija de gás os encurralou e queimou.

Hoje estão na Unidade de Queimados dos Hospitais da Universidade de Coimbra. Livres de perigo, com o dever cumprido, sofrem as dores das queimaduras que lhes marcaram o corpo. Os rostos mostram as marcas de um doloroso churrasco e a tranquila serenidade de quem cumpriu um dever sem aguardar a paga.

É de homens assim que se faz a grandeza moral de um povo, homens que, por entre labaredas, dão um exemplo de coragem e solidariedade que honra a Miuzela de que são filhos e as terras da Beira que guardam gente de coragem e abnegação.

Fui hoje vê-los com o General Augusto Monteiro Valente que me deu a notícia. Falando por um intercomunicador e vendo-os através dos vidros tive orgulho nos conterrâneos.

Em breve estarão de volta. Deixo-lhes aqui a minha homenagem.

sexta-feira, outubro 20, 2006

Edição n.º 39 do jornal "Miuzela Arriba"

segunda-feira, outubro 16, 2006

Prémio Prof. Dr. José Pinto Peixoto - Ensino Básico 1 º Ciclo 2006 - 2007

PRÉMIO PROFESSOR DOUTOR JOSÉ PINTO PEIXOTO
ENSINO BÁSICO - 1 º CICLO
2006-2007

REGULAMENTO

1-A ASSOCIAÇÃO CASA DE CULTURA PROFESSOR DOUTOR JOSÉ PINTO PEIXOTO, com sede em Miuzela, concelho de Almeida, para homenagear a memória do seu patrono, entre outras iniciativas, decidiu instituir a atribuição anual de um prémio, denominado “PRÉMIO PROFESSOR DOUTOR JOSÉ PINTO PEIXOTO – ENSINO BÁSICO - 1 ºCICLO”.
Honrando o Homem, o Professor e o Cientista, a Associação pretende também, através deste prémio, divulgar a terra, a figura, a vida e a obra do seu patrono e, desta forma, exercer uma acção pedagógica dirigida especialmente às gerações jovens.
2-Podem concorrer ao prémio os alunos naturais ou descendentes de naturais da Miuzela, que frequentem o 4 º ano do ensino básico – 1 º ciclo no ano lectivo 2006-2007, em qualquer escola do país ou do estrangeiro, através de carta registada, para a seguinte morada:
Associação Casa de Cultura Professor Doutor José Pinto Peixoto
Prémio Ensino Básico – 1 º Ciclo
a/c Augusto José Monteiro Valente
Rua Infanta D. Maria, n º 446 – 6 º D
3030 – 331 Coimbra
3-O Prémio terá o valor global de 250, 00 € euros, distribuído por.
1 º Classificado: 125,00 euros.
2 º Classificado. 75,00 euros .
3 º Classificado: 50,00 euros.
4-Da candidatura deverão fazer parte os seguintes documentos:
4.1-Carta de candidatura, donde conste o nome do concorrente, endereço postal, número de telefone para contacto eventual e informação sobre as ligações familiares do concorrente à Miuzela, que explique, no caso de não ser dela natural, a sua descendência da Miuzela.
4.2- Documento passado pela escola respectiva, que comprove que o candidato frequenta o 4 º ano do ensino básico – 1 º ciclo, no ano lectivo 2006-2007.
4.3 - Texto manuscrito, com o máximo de 200 palavras, sobre o tema “Usos e Costumes da Miuzela”.
4.4- Fotocópia do Bilhete de Identidade do concorrente e, no caso de não ser natural da Miuzela, dos seus ascendentes, de forma a comprovar a descendência da Miuzela.
Parágrafo único: Serão consideradas nulas as candidaturas que não se façam acompanhar do documento mencionado neste número.
5- A data limite para a entrega das candidaturas é o dia 31 de Maio de 2007 (data de registo do correio).
6-Júri de apuramento dos concorrentes premiados.
6.1- Será constituído por:
a) Dois membros da Comissão Instaladora da Associação Casa de Cultura Professor Doutor José Pinto Peixoto, sendo um deles o Presidente da Comissão.
b) Um elemento designado pelos familiares do Professor Doutor José Pinto Peixoto.
c) Um elemento designado pela Direcção do Centro Social, Cultural e Desportivo Miuzelense.
d) Um sócio da Associação, natural da Miuzela, designado por comum acordo dos elementos referidos nas alíneas anteriores.
6.2-No caso da falta de algum dos elementos referidos nas alíneas b) ou c) do número anterior, será substituído por outro sócio da associação, natural da Miuzela, designado por comum acordo dos elementos restantes.
6.3-O júri funcionará sempre com 5 elementos, que escolherão o presidente entre os seus membros.
6.4- Da reunião do júri será lavrada acta.
7-Atribuição do prémio
7.1- O júri atribuirá os prémios aos concorrentes por avaliação qualitativa dos textos recebidos.
7.2- As decisões do júri deverão ser subscritas por, no mínimo, 4 dos seus elementos.
7.3 -Das decisões do júri não cabe recurso.
8-A decisão do júri deverá ser conhecida até ao dia 30 de Junho de 2007.
9-A entrega do prémio deverá ter lugar na Miuzela, durante a “Sessão de Verão” a realizar no mês de Agosto de 2007.

12-A documentação do concurso será destruída no mesmo dia da atribuição do prémio, na presença de, pelo menos, dois elementos da Associação, sendo tal facto registado em acta.
13-Divulgação do prémio
13.1-O prémio será divulgado localmente, através do Jornal “Miuzela Arriba, do “site” da Associação www.associacaoprofesorjpintopeixoto.org e ainda de outros “sites” relacionados com a Miuzela.
14- Bibliogarfia de apoio:
- José Pinto Peixoto: “Miuzela – A Terra e as Gentes”, edição do autor, Lisboa, 1996.
- José Afonso Brardo: "Miuzela do Côa – Memórias para uma Monografia”.
- José Pereira da Silva: “Miuzela do Côa – Memórias e Factos”, Casa Véritas Editora Lda, Guarda, 2002.
- Outras publicações de autores da Miuzela.
- Artigos publicados no “Miuzela Arriba” e “Praça Alta”.

O Presidente da Comissão Instaladora da Associação
Augusto J. Monteiro Valente

sexta-feira, outubro 13, 2006

A Procissão da Senhora da Conceição (Crónica)

Para animar a fé e variar a liturgia eram frequentes as festas canónicas que esgotavam os ovos, o açúcar e a capacidade de endividamento na mercearia da aldeia.

A missa iniciava as festividades e prolongava-se com rituais e padres paramentados a rigor, vindos das paróquias vizinhas, e o sermão de um outro, contratado para enaltecer a santa e avivar a fé. O pregador subia ao púlpito e distinguia-se pela desenvoltura com que se exprimia, tanto mais apreciado quanto menos percebido, podendo confundir as virtudes e trocar os santos sem beliscar a fé ou pôr em risco os honorários.

Depois da missa a procissão percorria as ruas da aldeia com uma ou outra colcha nas janelas e mantas de farrapos garridas, que era pobre a gente e a intenção é que salvava.À frente iam os pendões, empunhados por braços possantes que contrariavam o vento, seguidos de bandeiras com imagens pias e anjinhos, apeados, de asas derreadas. A seguir viajavam alinhados os andores do Sagrado Coração de Jesus e de alguns santos que aliviavam o mofo e o abandono na sacristia. Por último vinha a estrela da companhia, a Senhora da Conceição, de comprovada virtude e milagres ignorados.

Os padres viajavam sob o pálio, conduzindo o arcipreste a custódia que exibia a hóstia consagrada, com acólitos a empunhar as varas.

Em meados do século que foi os cruzados gozavam ainda da estima de quem prevenia a salvação da alma e desconhecia a história das guerras religiosas. Assim, ladeando os andores, exultavam os garotos, meninos com uma faixa onde, a vermelho, se destacava a cruz e as meninas com uma touca que lhes escondia os cabelos e exibia uma cruz igual.

Depois dos padres e dos mordomos, orgulhosos dentro das opas, viajavam pelas ruas enlameadas as Irmandades. As Irmãs de Maria traziam o pescoço enfaixado com fitas azuis. Seguia-se a Irmandade do Sagrado Coração de Jesus com fitas vermelhas e, finalmente, as Almas do Purgatório com fitas roxas atrás de um estandarte que as anunciava, não fosse o diabo tomá-las como suas.

A cobrir a retaguarda a banda da Parada atacava música sacra enquanto os foguetes estalejavam no ar. A passo lento se o tempo convidava, ou mais apressados se a chuva fustigava, os crentes regressavam à igreja com deserções antecipadas a caminho de casa onde aguardavam as vitualhas.

Eram assim as procissões da minha infância percorrendo as ruas tortuosas da aldeia e os rectos caminhos da fé.

Carlos Esperança

Jornal do Fundão, ontem.

segunda-feira, outubro 02, 2006

Prémio Prof. Dr. José Pinto Peixoto - Ensino Básico 1 º Ciclo

António Morais Lajas, Tatiana Andrade Prata e Tiago Emanuel Monteiro Ladeiro, alunos da Escola do Ensino Básico da Miuzela, foram os contemplados com “Menções Honrosas” pela sua participação no concurso ao “Prémio Professor Doutor José Pinto Peixoto – Ensino Básico 1 º Ciclo”. A cerimónia de entrega dos prémios decorreu no passado dia 6 de Agosto, na Miuzela, com a presença de numerosa assistência, tendo sido presidida pelo Presidente da Associação Casa de Cultura Professor Doutor José Pinto Peixoto.
O concurso teve por base uma composição escrita sobre o livro “Miuzela – A Terra e as Gentes”, da autoria do patrono da Associação, assinalando o 10 º aniversário da publicação da obra, ocorrida escassos quatro meses antes do seu falecimento.
No decorrer da cerimónia foi apresentada uma comunicação sobre a referida obra pelo Dr. Victor Morais Ladeiro. O orador dissertou sobre a sua importância como memória da Miuzela e registo da identidade da freguesia nos seus variados aspectos (geografia física e humana, património arquitectónico e religioso, história, tradições, gastronomia, cancioneiro popular, etnografia, etc.), salientando, designadamente, o valor, para a respectiva comunidade, de importantes documentos oficiais inéditos que ilustram a obra, e que através dela foram preservados e divulgados, para conhecimento da comunidade, estudo e outros fins.
Durante a sessão foi também feita a evocação da figura do Professor Doutor José Pinto Peixoto, através de uma comunicação apresentada pelo Dr. Manuel Henrique Vieira Torres, docente da Universidade Moderna. O orador desenvolveu, especialmente, as qualidades do homenageado - que bem conheceu e com o qual trabalhou -, como académico e cientista e como cidadão, humanista e amigo, destacando “a simplicidade como explicava as coisas mais complexas”, “o cuidado extremo em não magoar quem quer que fosse”, a sua prontidão para “auxiliar quem precisasse da sua ajuda para singrar na vida”, e a forma como “lidava com a ingratidão com o distanciamento adequado para evitar o incómodo”.
A encerrar a sessão fez a sua apresentação pública o “Ranchinho da Miuzela”, grupo folclórico formado por crianças e jovens da Miuzela, mais uma excelente iniciativa local que bastante se aplaude, com a finalidade de revitalizar a cultura tradicional local junto das gerações mais novas.
Decorre, entretanto, a preparação da evocação do 10 º aniversário da morte do Professor Doutor José Pinto Peixoto, com cerimónias que terão lugar na Covilhã (seminário científico na Universidade da Beira Interior), na Miuzela (celebração religiosa e sessão cultural) e em Almeida.

O Presidente da Casa de Cultura
Augusto José Monteiro Valente

Os Jovens e a alimentação

No início de um novo ano lectivo, foi lançada uma oportuna campanha nacional sobre a alimentação nas escolas, visando prevenir e combater a obesidade nos jovens, cujos índices de crescimento estão a constituir séria preocupação.
Existe, de facto, um problema alimentar a nível geral que, embora comece muitas vezes na infância, afecta principalmente os jovens em idade escolar. E é preciso preocuparmo-nos com ele antes que seja demasiado tarde.
O consumo de fast–food está a alastrar no país e em todo o tipo de estratos sociais, apesar de o cidadão minimamente avisado saber que tal alimentação é prejudicial à sua saúde. As próprias crianças o sabem. Qual a razão então da corrida a este tipo de alimentos? O que estará a falhar?
Convenhamos que é agradável, de quando em vez, saborear uma sandes ou um prato diferente, para mais sem a preocupação de ter de arrumar tudo mais tarde. Mas porquê tanta sedução por um tipo de alimentação que se sabe à partida fazer mal à saúde? Preguiça? Falta de tempo? Eficácia da publicidade enganosa?
Preocupante é, sobretudo, o que se está a passar com os jovens, com o aumento considerável do número de casos de excesso ponderal e obesidade, apesar da crescente procura de ginásios. Cerca de um terço apresenta sinais de obesidade. É o resultado do exagerado consumo de batatas fritas encharcadas em óleo, de sandes a escorrer molhos diversos, e de outros alimentos cheios de sal, açúcar e gordura, completados com bebidas e sobremesas excessivamente doces.
É fundamental reflectir seriamente sobre este problema, pois os danos feitos durante a adolescência em matéria de nutrição dificilmente serão corrigidos no futuro.
Será pura perda de tempo promover campanhas em prol de uma alimentação saudável se as disfunções alimentares encontrarem campo aberto nas refeições tomadas em casa; no facilitismo dos pais, satisfazendo todos os apetites dos filhos, no deficiente funcionamento das cantinas escolares, com condições de bem-estar poucos agradáveis, ementas repetitivas, nutricionalmente desequilibradas, sem variedade e pouco apelativas; ou na irracionalidade dos bares, com a maioria das bebidas e outros produtos disponíveis de pastelaria e snack excessivamente energéticos.
Como em relação a outros vícios da sociedade de consumo em que vivemos, o problema parece começar, primeiramente, por uma questão de moda e de afirmação social. Para o prevenir será precisa maior sensibilização para uma alimentação saudável, mas, paralelamente, serão necessárias melhores condições envolventes. A transformação das cantinas e bares escolares em espaços em que os jovens se sintam bem e com os quais se identifiquem, em alternativa aos dos centros comerciais, será o primeiro passo. Depois, será necessário investir na qualidade e variedade das ementas, de modo a melhorar a apresentação e o paladar dos alimentos e o seu equilíbrio nutricional. Nos bares haverá que promover a gradual eliminação de produtos hipercalóricos e a sua substituição por produtos mais saudáveis. O acompanhamento por especialistas em saúde pública será, também, fundamental. Em questões de saúde não se pode improvisar. A colaboração dos pais, das escolas, das autarquias e do Estado, num envolvimento articulado e convergente, será, por último, indispensável para combater o que poderá vir a ser um novo flagelo da sociedade pós-moderna. Não se espere que sejam as multinacionais produtoras ou distribuidoras a fazê-lo.
Uma alimentação saudável é condição necessária para um corpo e mente sãos!

Paula Sofia Beirão Valente
(Nutricionista)