...com alma, com gentes, com sabores, com sensações, com saudades...

terça-feira, fevereiro 28, 2006

19 Março - o dia da ÁRVORE

artigo jornal "A Guarda" , 23 Fevereiro 2006


Tomba o “GIGANTE” Miuzelense


“Eu já previa que isto fosse acontecer”.
Esta foi a expressão mais ouvida, no passado fim-de-semana, entre as gentes da Miuzela. O maior ser vivo que habitava a aldeia, possante, da família das Pináceas, uma gimnospérmica com um perímetro de 4,40 m na base do tronco e cerca de 20 m de altura, Pinus Pinea, conhecido entre nós como o “Pinho Redondo”.
Monumento vivo, de referência obrigatória, elemento indispensável em qualquer postal ilustrado e parte na história da Miuzela.
A terra tremeu por volta das 20:00 h do dia 18 de Fevereiro.
Com cerca de 2 séculos de existência serviu para muitas brincadeiras e recordações entre os miuzelenses. De folha persistente e tronco direito cilíndrico de casca muito grossa e coloração castanho avermelhada. As folhas são agulhas verde claras, agrupadas duas a duas, rígidas, com 10 cm de comprimento e 1 a 2 mm de grossura. As pinhas estão isoladas ou agrupadas em 2 ou 3 de cor pardo castanho-avermelhado, e escamas com um pinhão de 15 a 20 mm de comprimento. Florescia de Março a Maio libertando os pinhões perto do final do período escolar, no verão, pois era onde se ia passar o resto da tarde depois das aulas. Sentados na relva, à sombra da sua grande copa arredondada, semelhante a um guarda-chuva, a comer pinhões e contar-lhe as nossas venturas e desventuras.
Parece que os elementos da natureza estavam revoltados, contra o estado de indiferenças que reina na aldeia. Ventos a soprar com toda a raiva, terrenos amolecidos pela água onde as raízes outrora se cravavam, o manto escuro da noite deixava a árvore sozinha sem que ninguém a pudesse acudir e as imagens e sons das televisões abafavam os murmúrios de socorro.
O “Pinho Redondo” tombou.
Depois de séculos a lutar contra as intempéries e agruras do tempo, foi vítima da acção (ou melhor omissão) do homem. “Eu já previa que isto fosse acontecer”. Não era apenas um mau presságio era a constatação de um facto. Todos sabíamos o que se estava a passar mas poucos, ou ninguém, fazia alguma coisa. Parece que era preciso um tema de conversa e que só com a sua queda se poderia arranjar.
Um projecto de construção foi aprovado.
Louva-se a coragem de um jovem casal miuzelense querer construir o seu lar e a sua vida na Miuzela, atitude esta que merece o apoio incondicional de todos, principalmente pelas instituições.
A falta de terrenos em boas condições de acessibilidade para construção de habitações, escasseiam na Miuzela, pois ou se encontram em mãos de pessoas que não querem vender ou em posse de herdeiros de antigos Senhores Feudais.
Durante muitos anos esteve à venda, mas a ideia que ninguém iria construir (ou ter a coragem de construir) naquele local, despreocupou o povo e os seus representantes políticos.
Agora o pinho caiu e não houve tenta surpresa quanto isso. A projecção da Miuzela no conselho tem vindo a perder importância. A perda sofrida é sinal deste estado de desinteresse, apatia e abandono.
Apesar da quarta povoação mais populosa a dinâmica e a pujança de outrora, quando ao grito “Miuzela Arriba” ninguém nos parava, são agora recordações saudosas.
Será que os nossos representantes políticos não puderam fazer nada?
Será que era a vontade do povo que ao lhes entregar o poder assinar de cruz o abate do “Pinho Redondo”? Será que continuam a ter a mesma legitimidade para o exercício do cargo para que foram eleitos?
Quando se fala em poder político, este não se resume apenas à Junta de Freguesia, mas alargado também a uma figura desconhecida de alguns, que é a Assembleia de Freguesia (órgão deliberativo por excelência). Este também com elevadas responsabilidades, pois é este órgão que confere os poderes ao presidente da junta. Será que alguma vez soubemos o que se passa nas reuniões da Assembleia de Freguesia e se estas ao menos decorrem conforme os termos da lei? E o que fazem os elementos da minoria (vulgo oposição) nessas assembleias. Será que defendem os seus pontos de vista e que desempenham o cargo com empenho e exigência que lhe são inerentes. Esperemos que sim.
Esperemos que em casos de grande importância para o povo, caso a Assembleia de Freguesia não se sinta capaz de tomar uma decisão de tal responsabilidade, que consultem o plenário de cidadãos, para que seja o povo a decidir.
Não podemos, também, deixar de parte os órgão municipais, em especial, a Câmara do nosso concelho, que bem intencionada é quando precisa mas que logo após se esquece dos seus objectivos de desenvolvimento sustentável e preservação do património passando a seguir (talvez) objectivos puramente economicistas e interesses pessoais (vulgo dinheiro). Afinal de contas foi ela que permitiu e licenciou a construção.
Será que ela (Câmara Municipal de Almeida) sabia o que aquele “pinhozeco” representava para nós?
Nunca pensou a minha geração em assistir a tamanho desleixo pelo património da aldeia. È altura para que todos façamos um exame de consciência.
Será que a Miuzela, a grande Miuzela, está a esmorecer, desanimar, enfraquecer.
Será que está a deixar-se ultrapassar pelas aldeias vizinhas, com pujança e ideias vencedoras.
Será que devemos ficar indiferentes, desinteressados, apáticos.
Continuar com as nossas vidas como se nada tivesse acontecido.
Mexer com as nossas emoções e recordações sem termos uma palavra a dizer.
NÃO!!
É preciso agir, agitar, mexer, actuar, activar.
É altura da Miuzela voltar a ser grande, enorme, imponente, colossal. É altura de voltarmos a levar bem alto a nossa cultura, o nosso nome, a nossa paixão, o nosso orgulho. É altura de voltar-mos a gritar a pulmões bem cheios “Miuzela Arriba”.

Tomba o GIGANTE, esperemos que não tenha sido em vão…

segunda-feira, fevereiro 27, 2006

houve "matança", houve "febras", houve "animação"... faltou "calor" (humano)













mais fotos aqui

sábado, fevereiro 25, 2006

Em apoio dos novos Órgãos Sociais

EM APOIO DOS NOVOS ÓRGÃOS SOCIAIS.

Em artigos anteriores abordei já os temas da cidadania e da participação cívica, mas nunca é demais voltar a eles.
Em determinadas regiões do país, correspondendo normalmente a comunidades rurais fechadas, estratificadas e envelhecidas, com baixos índices de escolaridade e fracos níveis de participação cívica e onde ainda impera uma mentalidade religiosa marcadamente tradicionalista, o messianismo político, centrado em ilusórios «salvadores da Pátria», é ainda uma atitude dominante entre as respectivas populações, que deles esperam a solução para os seus problemas. Fenómeno do mesmo tipo é o do patriarcalismo, em que os supostos «salvadores» são agora figuras políticas que, pela sua experiência e anciania, são elevados à categoria de «pais da Pátria» ou «reservas da República». Um e outro fenómeno reflectem a falta de dinâmica social, o alheamento dos cidadãos, a ausência de cidadania, a demissão democrática. Idêntico sentido pode ter a fidelização partidária ou pessoal do voto, que nessas mesmas regiões também muito acontece, primeiro caminho para o «caciquismo» tão característico da história democrática portuguesa, desde o liberalismo aos nossos dias.
Mudar mentalidades é um esforço à partida condenado ao insucesso. Solução mais correcta será apostar nas novas gerações, habituando-as desde cedo a desenvolverem o espírito crítico, a participarem na discussão dos problemas e a assumirem responsabilidades na sua resolução. Este é o caminho para uma cidadania activa, que vença a resignação, a indiferença e o imobilismo, e contribua, ao mesmo tempo, para a renovação geral da nossa vida democrática.
Por isto mesmo, e pelo muito mais que daí poderá advir para a Miuzela, se saúda a iniciativa e a coragem dos jovens que decidiram assumir nas suas mãos os destinos do Centro Social, Cultural e Desportivo Miuzelense. Que não lhes esmoreça o ânimo perante as dificuldades.
Monteiro Valente





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sexta-feira, fevereiro 24, 2006

A Senhora do Monte

Nas aldeias da Beira Alta era hábito rezar, pelas intenções plenárias de cada mês, nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, ir ao confesso e à eucaristia e, assim, alcançar as indulgências exigidas para a salvação da alma.

Podia parecer injusto pôr garotos a rezar por pecados dos adultos, mas já se sabia que outros garotos o fariam quando adultos se tornassem esses para apreciar os pecados. Ficavam as rezas para as mulheres, que sempre as fariam, para os que ainda não sabiam pecar e para os que, sabendo, já não podiam.

Era assim, há meio século, e disso se não livrou a criança que fui. Além das devoções locais outras havia que se cumpriam em paróquias próximas, que os transportes não permitiam lonjuras, com dia certo e local aprazado. A Senhora do Monte era um desses destinos.

Guardo da infância o gosto por romarias. Os santos domiciliavam-se no alto dos montes para ficarem a meio caminho entre os devotos que lhes pediam e o céu que os atendia. Eram mensageiros dedicados, imóveis numa peanha, ouvindo queixas, aceitando petições, a aliviarem o sofrimento. Raramente eram solicitados além das suas posses e, se soía, resignavam-se os mendicantes. Quanto mais perto do céu, maior respeito infundiam, mais petições recebiam, maiores expectativas geravam. Eu ficava a imaginar do que seriam capazes os que habitavam no cimo de montanhas muito altas, que sabia haver, sem cuidar das dificuldades de acesso dos requerentes.

Durante o ano, os santos concediam graças que eram agradecidas em Agosto com foguetes, missa e uma romaria profana que irritava os padres e alegrava os santos. Mas, de tanto pedirem, foi-se Deus cansando de os ouvir, primeiro, desinteressaram-se os crentes de implorar, depois, ou, talvez, a sangria da emigração converteu em deserto o terreno fértil da fé. É com saudade que recordo as ermidas abandonadas que outrora atraíam à sua volta feiras e procissões em confronto dialéctico do sagrado com o profano numa síntese admirável de que só o mundo rural era capaz.

A Senhora do Monte pertencia à paróquia da Cerdeira. Às vezes os santos tomavam as dores dos paroquianos e geravam a desconfiança dos vizinhos, mas não era o caso, por ser de concelho diferente e não haver rivalidades entre as paróquias.

Saíamos da Miuzela do Côa, manhã cedo, descíamos a aldeia, passávamos pela capelinha de S. Sebastião, deixando à direita, encostada ao cemitério, a vinha do passal que, no tempo da República, Paulo Afonso comprou à autoridade administrativa, valendo-lhe a excomunhão eclesiástica, vingança do pároco que reclamava a vinha e o regresso da monarquia. Viveu o réprobo em paz, sem que o anátema o apoquentasse, até ao dia em que teve de pedir a desexcomunhão, para que o filho pudesse franquear o seminário, custando-lhe a canónica amnistia outra vez o valor da vinha.

À beira do caminho havia agricultores, inquietos com a romaria, a guardar os melões, que a rapaziada cobiçava, e, ao longe, entre giestas, lobrigavam-se cachopas, deambulando à espera do encontro apalavrado, talvez mesmo alguma coitanaxa aflita por tornar-se dona.

Íamos pela fresca e regressávamos tarde, de estômago menos vazio, com fritos e vinho a justificarem a jornada, esquecida a devoção, a tropeçar nas pedras em noites de lua nova. Atrás de nós via-se um clarão, vindo da Guarda, à distância de seis léguas, no alto do monte onde chegara a luz eléctrica, com a ermida de onde voltávamos perdida na escuridão da noite.

A Senhora do Monte há muito que não fazia um milagre de jeito mas tinha festa rija e um passado de respeito. Um dia o fogo subiu o monte impelido pelo vento e envolveu a capela, com gente aflita a orar. Abriram as portas e redobraram as orações, que em tempo de aflição se reza mais depressa para compensar a desatenção e acompanhar a ansiedade. Deixaram que a virgem visse o fogo e este a virgem. Foi então que as chamas baixaram e logo o fogo se deteve, enquanto, maravilha das maravilhas, prodígio nunca visto, começou o fogo a recuar e, à medida que a terra desardia, tornaram as plantas que a cobriam.

A Santa, por ter-se cansado ou perdido o jeito, renunciou aos milagres, mas os crentes não desistiram de a ver regressar ao ramo e fazer jus à glória antiga. Ainda assim, era muito solicitada por raparigas solteiras que lhe imploravam para as livrar da prenhez que em horas do demo pudessem ter contraído. Foi como contraceptivo de eficácia duvidosa que conheci a Senhora do Monte nos tempos em que calcorreei os caminhos que lá me levaram.

terça-feira, fevereiro 21, 2006

Bento XVI e as caricaturas de Maomé

Bento XVI só ontem se pronunciou sobre a polémica em torno das caricaturas de Maomé.

«É necessário e urgente que as religiões e os seus símbolos sejam respeitados e que os crentes não sejam alvo de provocações que firam a sua iniciativa e os seus sentimentos religiosos» - disse Bento XVI durante a audiência ao embaixador marroquino junto do Vaticano, Ali Achour.

Para o Papa, este é o código de conduta a que todos se devem submeter. Não teve uma palavra de censura para a violência, uma manifestação de desagrado para quem lapida mulheres, degola infiéis, tortura reclusos, assassina apóstatas, promove o terrorismo e faz do livro sagrado a única fonte de valores e do direito.

Os israelitas certamente continuam à espera de uma palavra do Vaticano contra o líder do Irão, que nega o holocausto e pretende erradicar Israel.

A Declaração Universal dos Direitos do Homem não se sobrepõe ao Corão e a defesa da liberdade não é uma questão «necessária e urgente» na agenda do actual pontificado.

Já sairam as fotos do Jantar de Miuzelenses na capital













clica aqui

bate a "saudade"

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

A QUEDA DO GIGANTE

numa noite em que os deuses pareciam estar contra nós,
a força do ar em movimento,
qual espada de samurai experiente,
passa pelo nosso mais alto elemento vivo...

e o Pinho Redondo "TOMBOU",


qual guerreiro em longa batalha.

e agora o que se segue??!

o amainar?
o baixar os braços?
o render?
o indiferente?
o é pena?
o continuar a viver a minha vidinha como se nada tivesse acontecido, por que mais cedo ou mais tarde tinha que acontecer e ninguém poderia fazer nada para o impedir?


NÃO!!!!

Representação Teatral

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Casadas com violência

A Visão de ontem alerta-nos para uma das mais dramáticas realidades que se esconde no seio das famílias – a violência.

«Todas as semanas, em Portugal, uma mulher é morta pelo homem com quem vive. Histórias dramáticas de quem não festeja o Dia dos Namorados».

É nesta penumbra, sob a alegada brandura dos nossos costumes, perante o silêncio cobarde e a insensibilidade de muitos, que a tragédia acontece e, muitas vezes, fica impune.

«Entre marido e mulher não metas a colher» é um adágio profundamente reaccionário, fruto de uma cultura que discrimina metade da humanidade, que a obriga a pagar um pesado ónus e nunca mais a absolve do «pecado original».

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Saiu a nova edição do Jornal "MIUZELA ARRIBA"