...com alma, com gentes, com sabores, com sensações, com saudades...

quarta-feira, maio 12, 2010

Lugares e pessoas com história




A Quinta da Vancemelha, graças ao labor do Zé Prata, tornou-se nos últimos anos num local de culto e de peregrinação frequentado por muitos.
Nesta última Páscoa e à semelhança do que aconteceu em anos anteriores, lá fui mais uma vez até à Miuzela.

Num dos passeios a pé que habitualmente realizo com a família pelas ruas da terra, cruzei-me com o Zé. Vinha ele da sua Quinta, conduzia habilmente o tractor com a mão direita enquanto a esquerda segurava cuidadosamente a sua inseparável cadela, guardiã fiel dos bens do seu dono. Logo que me avistou à distância abrandou a marcha da máquina para que pudesse parar em segurança junto de nós. Iniciei então a saudação manual da praxe. De imediato e evidenciando uma rapidez de reflexos invejável, o canídeo respondeu-me com ar ameaçador, por julgar que o seu dono corria riscos. Depois das coisas terem acalmado entre mim e cadela, após uma breve conversa para confirmar que estava tudo bem entre nós, o Zé serenamente, com o humor peculiar, o que provocou em mim uma forte gargalhada, pediu-me para cumprimentar a múmia referindo-se a um amigo que o acompanhava imediatamente atrás, sentado no atrelado. O que fiz, sem aqui revelar o nome da personagem.
Naquela breve troca de palavras ficou o convite para eu passar na sua VANCEMELHA.

O Zé Prata é conhecido na urbe afectuosamente pelo Zé Pinguinhas. A Quinta da Vancemelha é um local paradisíaco, onde o Zé acolhe a todos com a sua grande generosidade, simpatia e reconhecida hospitalidade. A portaleira para quem passa no serro, está sempre aberta. Poucos são aqueles que não conhecem a Quinta do Zé Pinguinhas.

Passados alguns dias, enquanto a Matilde a Carolina e o Francisco apanhavam marujas na lameira da quinta da Lurdes, aproveitei e por ser perto passei por lá.

Enquanto saboreávamos o precioso néctar dos deuses, falámos entre outras coisas, das vinhas e do vinho, disse-me por exemplo que estava preocupado com o futuro das castas genuínas, responsáveis pela identidade e sabor únicos do vinho da Miuzela. Referiu que está actualmente a plantar uma vinha nova com as tais que pertencem ao linguarejo popular e sabores da minha infância: bastardo, bastardinho, frogusão, rossete, alva, chasselá, etc.

O Zé Pinguinhas por ser assim, é também ele, um homem à frente do nosso tempo, numa altura em que a vinha da Miuzela está em risco de extinção, é espantoso ele querer preservar as castas. É remar contracorrente, é querer preservar a história, não há muitos assim. Boa Zé!

E foi também de homens que falámos naquela bela tarde de Primavera, à Beira-Côa, concordámos que houve pessoas que marcaram a Miuzela. Eram os HOMENS DE PALAVRA, pela sua verticalidade, credibilidade, seriedade, sensatez e sentido de justiça evidenciados, era habitual naquele tempo serem escutados e procurados, frequentemente para dirimir conflitos sociais relacionados por exemplo com desentendimento em partilhas, colocação de marcos, etc.

A PALAVRA verbalizada era escutada pelas partes em conflito diminuindo a tensão entre eles. A sua mediação contribuiu e muito para o apaziguar das relações, enquanto aumentava a felicidade das pessoas.

Foi triste vê-los partir, não devia ter acontecido, criaram um vazio impossível de preencher.
Quantos são hoje os homens de palavra?
Um abraço Zé

Por : António José do Carmo Gonçalves

sábado, maio 08, 2010

A MIUZELA SOFRE COM UMA PERDA IRREPARÁVEL












DR RAMIRO LADEIRO MONTEIRO





UM BREVE RETROSPECTO SOBRE UMA DAS MAIORES DENSIDADES POPULACIONAIS QUE A MIUZELA JÁ VIVEU NA SUA HISTÓRIA, REMETE-NOS AOS ANOS IDOS DA DÉCADA DE 1955 A 1965.
COMO FAÇO PARTE DESSA GERAÇÃO(MAIS PRECISAMENTE 1960) E INGRESSEI NO SEMINÁRIO MENOR DA GUARDA-FUNDÃO NA DÉCADA DE 1970, QUAL NÃO FOI O MEU ESPANTO AO CONSULTAR SE ALGUÉM DA MIUZELA JÁ TERIA FREQUENTADO O DITO SEMINÁRIO ,QUE SURGE-ME O NOME DE UMA PESSOA : -RAMIRO LADEIRO MONTEIRO.
ACHANDO QUE EU SERIA A PRIMEIRA PESSOA A FREQUENTAR O SEMINÁRIO, PROCUREI ACOMPANHAR, QUEM SERIA ESSA OUTRA E QUAL SERIA SEU PARADEIRO E O CAMINHO QUE SEGUIU ... TALVEZ PUDESSE FAZER PARTE DAQUELAS REFERÊNCIAS , QUE MARCAM PRINCIPALMENTE OS JOVENS NA INFÂNCIA E NA ADOLESCENCIA PARA O SEU FUTURO.
EM 1974 ESTAVA EU NO SEMINÁRIO ,QUANDO UM GOLPE DE ESTADO ENCETADO PELOS " CAPITÃES DE ABRIL" DAVA FIM A UMA DITADURA DE APROXIMADAMENTE 50 ANOS . ...
É A PARTIR DAÍ, QUE COMEÇA A SURGIR UMA PERSONALIDADE QUE COM O PASSAR DO TEMPO, COMEÇA A DESTACAR-SE E A FAZER ALGO QUE JAMAIS ALGUÉM PENSASSE QUE PUDESSE FAZER PELOS JOVENS DA MIUZELA: - DR RAMIRO LADEIRO MONTEIRO - .
EM NOVEMBRO DE 1978 (COM 18 ANOS) E COM O ANTIGO SÉTIMO ANO FEITO, DEIXO EU A MIUZELA RUMO AO BRASIL,TAL A ESCASSEZ DE OPORTUNIDADES COM AS QUAIS ME DEPARAVA, NÃO SÓ EU , COMO TAMBÉM TODOS OS JOVENS COM OS QUAIS CONVIVIA, ... IMAGINEM QUE ESSA FOI A ÉPOCA QUE MAIS GENTE HAVIA NA MIUZELA . ... MAS, E O NOSSO FUTURO ?
É AÍ QUE COMEÇA O DESABROCHAR DA ESTRELA DO DR RAMIRO ,TAL COMO A MIUZELA O CHAMAVA.
PERGUNTO : EXISTE ALGUM JOVEM DA MIUZELA A PARTIR DESSA ÉPOCA QUE DIRETA OU INDIRETAMENTE NÃO ESTIVESSE LIGADO AO DR RAMIRO ? SOU CAPAZ DE RESPONDER QUE ... NENHUM .
MUITA GENTE SE PERGUNTA, MAS A OBRA DELE NÃO APARECE !
VOU CONTAR UM EPISÓDIO ,QUE ACONTECEU COMIGO DURANTE UMA PASSAGEM PELA POLÍCIA ALFANDEGÁRIA NO AEROPORTO DE LISBOA, QUANDO UM POLÍCIA ME PERGUNTA : VOCÊ É DA TERRA DO LADEIRO MONTEIRO ? -SOU ! VOCÊ SABE QUEM É O LADEIRO MONTEIRO ? - SEI ! É AMIGO DO MEU PAI . ENTÃO ESTÁ BEM ! ( ... ) .
- ERA AMIGO DE TODA A GENTE !
EU DIGO QUE, CADA VEZ QUE VOU À MIUZELA E VEJO OS MEUS AMIGOS DE JUVENTUDE , ENXERGO EM CADA UM DELES O DEDO DESSA ILUSTRE FIGURA QUE NA MINHA OPINIÃO, NUNCA NINGUÉM JAMAIS EM TEMPO ALGUM ,HOUVERA FEITO PELOS JOVENS DA MIUZELA AQUILO QUE O DR RAMIRO FEZ.
EM NOME DE TODOS E DE TODAS , AGRADEÇO PUBLICAMENTE A ESSA PESSOA, QUE ESTEJA ONDE ESTIVER, A MIUZELA RENDER-LHE-Á ETERNA GRATIDÃO.
OBRIGADO DR RAMIRO
ATÉ SEMPRE

HORÁCIO EUGÉNIO DO CARMO GONÇALVES
e-mail- tihoracio@uol.com.br