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sexta-feira, novembro 09, 2012

Adeus Sérgio


Chamava-se Sérgio Augusto da Silva Pereira. Partiu num dia de chuva e frio. Morreu no dia 6 de outubro e foi a enterrar no dia 7. Com muito povo e muita saudade.

Morreu um homem bom da Miuzela do Côa. A doença foi-o corroendo e levou-lhe a carne, deixando-lhe a lucidez até ao último momento, quando só a pele e os ossos lhe restavam.

Foi uma longa e dolorosa agonia. Tinha 79 anos e nunca deixou a Miuzela. Talvez por isso lhe foi ingrata a vida. Tinha uma inteligência viva, a memória de um elefante e um coração de oiro. Pagou o tributo de querer viver na aldeia onde nasceu e morreu.

Foi presidente da Junta da sua terra e gastou a vida fazendo de tudo um pouco. Foi taxista, taberneiro, fabricante de aguardente, comerciante, caçador e pescador. Não nasceu para a agricultura. Nasceu para os amigos.

Vai fazer-me muita falta. Não perdi apenas um primo que me quis para padrinho de casamento. Perdi um dos melhores amigos de sempre.

Abraço a Helena, o filho e o neto. Não suporto a saudade de quem me ensinou as primeiras asneiras, com quem bebi os primeiros copos e fumei os primeiros cigarros. Foi com ele que aprendi a sede de liberdade que ainda conservo.

A Miuzela é cada vez mais um local de recordações. No seu cemitério só vejo caras conhecidas nas fotos que povoam as campas. Em nenhum lado tenho tantos amigos como ali.

Com o Sérgio partiu parte de mim. Os amigos levam sempre algo de nós. Desta vez foi grande o quinhão, foi enorme a perda e é insuportável a tristeza.

Descansa em paz, Sérgio.

Coimbra, 8 de outubro de 2012

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