Adeus Sérgio
Chamava-se Sérgio Augusto da Silva Pereira. Partiu num dia
de chuva e frio. Morreu no dia 6 de outubro e foi a enterrar no dia 7. Com
muito povo e muita saudade.
Morreu um homem bom da Miuzela do Côa. A doença foi-o corroendo
e levou-lhe a carne, deixando-lhe a lucidez até ao último momento, quando só a
pele e os ossos lhe restavam.
Foi uma longa e dolorosa agonia. Tinha 79 anos e nunca
deixou a Miuzela. Talvez por isso lhe foi ingrata a vida. Tinha uma inteligência
viva, a memória de um elefante e um coração de oiro. Pagou o tributo de querer
viver na aldeia onde nasceu e morreu.
Foi presidente da Junta da sua terra e gastou a vida fazendo
de tudo um pouco. Foi taxista, taberneiro, fabricante de aguardente,
comerciante, caçador e pescador. Não nasceu para a agricultura. Nasceu para os
amigos.
Vai fazer-me muita falta. Não perdi apenas um primo que me
quis para padrinho de casamento. Perdi um dos melhores amigos de sempre.
Abraço a Helena, o filho e o neto. Não suporto a saudade de
quem me ensinou as primeiras asneiras, com quem bebi os primeiros copos e fumei
os primeiros cigarros. Foi com ele que aprendi a sede de liberdade que ainda
conservo.
A Miuzela é cada vez mais um local de recordações. No seu
cemitério só vejo caras conhecidas nas fotos que povoam as campas. Em nenhum
lado tenho tantos amigos como ali.
Com o Sérgio partiu parte de mim. Os amigos levam sempre
algo de nós. Desta vez foi grande o quinhão, foi enorme a perda e é insuportável
a tristeza.
Descansa em paz, Sérgio.
Coimbra, 8 de outubro de 2012
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