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segunda-feira, julho 31, 2006

Uma Aldeia

Uma aldeia, segundo o dicionário, é uma pequena povoação, inferior a uma vila. Mas, mais que isso, uma aldeia é, sobretudo, uma comunidade de vizinhança, que se caracteriza por uma acentuada coesão social baseada em estreitas relações pessoais de proximidade, num sentimento afectivo ou tradicional comum de pertença a um mesmo todo e numa consciência de integração e de solidariedade na vida quotidiana. Por isso, uma aldeia é muito mais que uma aglomeração de pessoas.
Uma aldeia é, ao mesmo tempo, um lugar singular e diferenciado, reconhecido exteriormente. O que a determina não é a existência de outras aldeias, mas as particularidades que soube criar e souber gerar. Ou seja, uma aldeia caracteriza-se por uma forte identidade, naquilo que a individualiza enquanto comunidade própria e naquilo que a diferencia das comunidades vizinhas; e, ao mesmo tempo, num certo sentido de orgulho das suas Gentes, que se expressava tradicionalmente no uso corrente do termo «nós».
O futuro de uma aldeia está na preservação e renovação permanente da sua singularidade – o seu património cultural, ambiental, arquitectónico, gastronómico, etc. Não no sentido de conservação imobilista como se de uma reserva natural se tratasse, mas no de recuperação, renovação, recriação e valorização, adaptando-se aos novos tempos mas salvaguardando as suas especificidades.
Infelizmente, não tem sido essa a lógica de «desenvolvimento» de muitas das nossas aldeias. A trivialização tem vindo a prevalecer sobre a singularidade, a uniformização sobre a diferenciação, com o consequente risco de perda da identidade e do reconhecimento exterior.
A Miuzela tem sabido manter através dos tempos uma forte identidade própria, especialmente afirmada nos períodos de maiores dificuldades, tornando-se conhecida e estimada pelas terras vizinhas pelas qualidades das suas Gentes. Tem sabido resistir à descaracterização que os novos tempos tendem a gerar, defendendo, no essencial, o seu vasto e rico património – embora tenha deixado perder algum dele, que seria bom recuperar.
Saberá a Miuzela continuar a fazê-lo no futuro? A resposta estará na aposta que fizer entre a valorização do que lhe é peculiar ou a imitação do que é comum à sua vizinhança.

Monteiro Valente

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